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segunda-feira, 31 de maio de 2010

lembrada canção,
Amor, renova agora.
Na noite, olhos fechados, tua voz
Dói-me no coração
Por tudo quanto chora.
Cantas ao pé de mim, e eu estou a sós.

Não, a voz não é tua
Que se ergue e acorda em mim
Murmúrios de saudade e de inconstância,
O luar não vem da lua
Mas do meu ser afim
Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância.

Não, não é teu o canto
Que como um astro ao fundo
Da noite imensa do meu coração
Chama em vão, chama tanto...

Quem sou, não sei...e o mundo?...
Renova, amor, a antiga e vã canção.

Cantas mais que por ti.
Tua voz é uma ponte
Por onde passa, inúmero, um segredo
Que nunca recebi -
Murmúrio do horizonte,
Água na noite, morte que vem cedo.

Assim, cantas sem que existas.
Ao fim do luar pressinto
Melhores sonhos que este da ilusão.

Fernando Pessoa


Há certas almas
como as borboletas
cuja fragilidade de asas
não resiste ao mais leve contato
que deixam ficar pedaços
pelos dedos que as tocam.

Em seu vôo de ideal,
deslumbram olhos,
atraem as vistas:
perseguem-nas,
alcançam-nas,
detem-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.

Ela, porém, não voam como dantes
ficam vazias de si mesmas
cheias de desalento...

Almas e borboletas,
não fosse a tentação das cousas rasas
- o amor de néctar
- o néctar do amor,
e pairaríamos nos cimos
seduzindo do alto,
admirando de longe!...

(Gilka Machado)
Quem - estando ausente - entra no quarto
Quem deita ao lado meu, quem passa
No meu coração seus lábios quentes, quem
Desperta em mim as feras todas
Quem me rasga e cura
Quem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelas
Quem me leva em marés de sono e riso
Quem invade meu dia após a noite
Quem vem – estando ausente -
E nunca vai?

(Lya Luft)



































Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores, também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

(Florbela Espanca)
Que importam os trajes
Se a mensagem nos veste a alma.
Traja-te dos teus gestos,
Mesmo que inquietos,
São teus,
Não são feitos de céus!
Que importa como me chegas
Se o coração me aconchegas.
Chega-te a mim,
Assim,
Com chagas,
As da tua mão,
Mas o que eu vejo
É o coração!
Vem para a lareira,
Vou para a tua beira,
Aquece a minha paixão,
Dou corpo à tua ilusão,
Agora que temos,
Minha mão
Na tua mão,
Este encontro
Que é o do coração!

(António A. da Mota Viana)




Fada Ruiva

Fada Ruiva Comete erros,
E há dias que comete outros mais
Às vezes cansa de ser forte,
Tem dias que não!
Procura não se acomodar com a rotina diária,
Inventa frases...
Conta histórias,
Lembra de sonhos,
Coloca tudo no papel,
E procura realizar
Supera os problemas,
Tem tantos outros ainda para resolver,
Precisa de cuidados constantes
É vaidosa,
Sabe se amar
Despreza a inveja,
Se encanta com a ternura,
Vive em harmonia com a natureza,
Ama os animais,
É transparente,
Se desespera com a dor
Mas sabe se curar,
A terra acalma,
O ar limpa,
A água estimula,
O fogo a atrai,
Mas só o tempo ensina
Sabe chorar e sabe sorrir
A vida a fez assim
Goza feliz e sabe se entregar
Eterna Menina,
Fada Mulher.
by ~ Paty Padilha




Desejo de um Anjo

Ah! Os meus amores,
Quão lindos são os meus amores,
Fonte de minha paixão
São os meus amores!...

Quando eu ainda era ninguém
Dentre o meu jardim de flores,
Fostes quem me fizeste alguém.
Ah! Os meus amores,
Tão cheios de amor também!...

São todas as minhas cores,
Minhas sombras ao calor do dia.
Ah! Os meus amores,
É toda a minha alegria!...

Quando estou às trevas do mundo
Tão mortiço de coração,
Num triste sentimento profundo...
São os meus amores
Que me enchestes de razão!...

Quando eu me for desta terra
Em espírito, corpo-celeste,
Onde em alma aqui se encerra,
Será para os meus amores
Que doarei o meu coração!...

E quando os encontrar novamente
Aos pés de Deus, ao infinito...
A meus amores será meu grito,
Por junto a mim, eternamente!...

(Poeta- Dolandmay)




SENTIMENTO OCULTO

Tão oculta anda a minha cabeça
Não sou alegria, e nem sou tristeza.
Deverá Deus ter me esquecido
Neste tempo sem me clarear a lua,
Nestas noites, que não perpetua,
Em redor de mim o amor antigo?

Não tenho a sentir qualquer sabor
Ou qualquer frio, ou qualquer calor.
Será eu um funesto esfaimado
Pelo dom da vida, que me é de amar,
Que ao coração têm-me a perdurar,
E assim, nem sou um amargurado?

Ah, quem me dera saber o segredo,
Do tudo e nada, a ocultar o medo,
Sem fazer a mim qualquer pecado!

(Poeta- Dolandmay)




DUM AMOR LIBERTO
Quanto vejo em mim as tuas alegrias, Os desejos, a paixão que te roga amor; 

Quanto vejo em mim o sentir dos dias Do teu coração, que palpitas sem dor... 

Quanto vejo em mim, querida, o calor Dos teus agrados, sobre as tuas magias; 

Quanto vejo em mim as noites de cor Que se revezam, em tuas vultosas 

orgias... Quanto vejo, meu amor, no meu sonho Os teus vastos segredos sem 

tamanho, A se revelar no meu miserável coração; E a te sonhar liberta, na 

vontade de ti, Vejo-a acreditar um amor que não vivi... Nas liberdades! Fosse 

embora a solidão! 

(Poeta- Dolandmay)