O dia surgiu meu amor?!
Eu não sei, pois todos pra mim são iguais,
conservam-se em tons preto e branco.
Todos os seres são idênticos em sua aparência,
parecem cobertos de cinzas, não vejo rostos.
Não amanheço desde o dia que deixei
de ouvir tua voz, desintegro pouco a pouco.
Você me ouve amor?!
Perdoa-me, sei que não me quer assim, mas não
tenho escolha agora.
Te perdi pra maior rival de uma mulher,
a morte, pois quando ela chega o final
é uma certeza.
Sinto tanto não poder te tocar,
embora te sinta mais perto agora,
mas tudo que precisava era do aconchego
do teu colo como outrora.
Mila Lopes
Eram movimentos maravilhosos.
Meu corpo transportava-se para um plano
mais elevado, depois movia-se para baixo.
Lentamente sentia teu corpo
Lentamente sentia teu corpo
mover-se sob o meu, era teu resfolegar
um doce respirar de quem acabara de amar.
um doce respirar de quem acabara de amar.
Teu coração já desacelerado era como
canção aos meus ouvidos.
Calmaria era teu respirar
que me fazia sonhar.
Após uma orvalhada de desejos
um beijo quebra o silêncio daquele
mágico momento, teu afagar doce
em meus cabelos fez-me adormecer
em meus cabelos fez-me adormecer
despida sobre o teu peito.
Ao despertarmos, não conseguimos
evitar o que as mãos pediam,
o que nossos corpos gritavam.
Aquele desejo fez ecoar gritos
de um amor que nunca quis calar.
Sons emitidos, sem esforços, de um amor
que veio a despertar.
Naquela noite, repetidas vezes, pudemos
nos amar.
Mila Lopes
«Os homens são seres que perderam a confiança dos pássaros»
Rubem Alves
Confiado ao vento rasteiro, debulho do céu reordenado
nesse muro musgo bravio, na revolta sílaba do som
da terra, firma-se a sombra que não se ergue do chão,
este meu corpo apeadeiro, pássaro passageiro
que aparte a asa descarnada
de pó, de brasa que se amorna no peito da casa,
se aparta da vasculhada carta do céu, e
tão perto
Junto da nuvem, estante e pêndulo da hora que me orienta
nos arrumos, desperdícios, no ar que me inventa,
procurados os pequenos veios das somas
do tempo, os tão comuns de cada instante,
as rodas desdentadas, quase engaste
e sopro, planejarei
a mesa, a porta, a imitação da ave
que me antes me espalhou pelo ar, como barro
que se molda e definha, e espalha dentro
da linha. No entanto, sendo estação, será pouca
ou tanta, nunca a derradeira.
Confiado ao vento rasteiro que varre o chão aparente,
serei imitação, improviso do pássaro que me trouxe dentro,
tão perto da macia luz nocturna,
onde me penso provável e inteiro, e
Do suspenso voo que não esqueci,
da ínfima imitação, eco e lamento,
alinharei um veio
uma imaginária e marginal linha dos mapas sem mundo,
princípio do dia em desalinho,
um ponto declinado, mas raramente o ponto final.
Confiado ao passageiro vento
pelo pássaro inventado,
este meu corpo continuará apeadeiro para um pouco de voz,
um pouco remendo que guardo entre as mãos,
a mínima sombra que me sobra dum retrato e
pedaço do tempo comum, o chão, a carne e o osso,
a letra feita de rouco ruído, tão incerto:
- É tanto que me exige
o voo,
da parte do céu o troço onde me esqueci, e
no entanto, sendo pouco, é muito e
mais não posso!
Publicada por Leonardo B
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