COM O MEU AFETO...

CICATRIZES

Frágil em minhas lembranças
Embrulhei todos os meus sonhos
Numa gaveta amarelada
Que foram esquecidos pelo tempo.
Carecia me recompor,
Unir bom senso as fantasias
E formar o quebra-cabeça desejado.
Sem gestão de mim,
Armei uma cilada para a tristeza
Que já se fazia tímida como um caracol...
Hesitei por alguns instantes
Com o olhar cravado em meu silêncio
Debuxei figuras desconexas
No intuito de me reconstituir.

Acordei comum gosto amargo de desilusão
Por não saber da minha identidade...

Eu estava perdida.
Na tentativa de me encontrar
Escancarei as janelas das minhas saudades,
Dores e amores vivenciados.
Expus as cicatrizes...
Buscava vestígios de que eu fora um dia.
Cabia-me juntar os pedaços,
Desfazer os nós, avivar as lembranças,
Refazer os caminhos idos e vindos.
Reavaliar as perdas e ganhos,
Rememorar as loucuras que o coração me impôs,
Passar a limpo o que apenas rabisquei.
Enfim, me reconhecer.

(Marlene Gomes e Agna Oliveira)

ITINERÁRIO

Primeiro, foram os verdes
e águas e pedras da tarde,
e meus sonhos de perder-te
e meus sonhos de encontrar-te...

Mas depois houve caminhos
pelas florestas lunares,
e, mortos em meus ouvidos,
mares brancos de palavras.

Achei lugares serenos
e aromas de fonte extinta.
Raízes fora do tempo,
com flores vivas ainda.

E eram flores encarnadas,
por cima das folhas verdes.
(Entre os espinhos de prata,
só meus sonhos de perder-te...)

(Cecília Meireles)