VENENO
Jenário de Fátima
Se alguém lhe fala mal de outra pessoa
E fala assim, despudoradamente,
A mesma voz que agora a ti ecoa,
Falara também de ti, futuramente.
A palavra que corta, que atordoa,
Como um punhal que, impiedosamente,
Vai dissecando, por motivo a toa,
A carne de uma vítima inocente,
Talvez seja o maior mal da humanidade...
A coisa mais baixa que alguém recorre
Pra ferir outro alguém com crueldade.
Mas a vida por vezes vem puni-la.
Às vezes ela agoniza e até morre,
Pelo mesmo veneno que destila.
Sinto um vulto de mistério.
VESTÍGIO INCERTO
Sou a alma que o tempo não levou
Petrificando-me ao teu desalento...
Nas devassas noites sem luar e sem cor.
Vagando no ócio da minha solidão
Não mais consigo ter calma...
Minha essência perece nas trevas
Sem o langor de uma paixão.
Na busca extrema por uma idolatria,
Minha vida se finda no nada...
Apenas encontro indícios, apagados
Estrelas sem luz, lua sem brilho
Que não reluz o meu amor.
(Poeta Dolandmay)
À PROMETIDA II
Dá-me, oh, mulher d’estrelas
As tuas promessas,
Os teus sorrisos de paixão;
Rumor de cantigas presas...
Meu coração, ora pulsante,
Ora frenético e triste;
É teu cais distraído
Nas vozes que a persiste...
Horas doces, horas loucas
Passam por mim em vão,
No sol que queima
O meu inerme coração...
Nas luzes de velas mortas
O teu crepitar imagino
Como fada entre os lírios
A prover o meu destino...
E vêm a mim os imunes,
— Sei lá se sentem dor,
Perguntam-me sorrindo:
Por que sonhas o esplendor?
Respondo em meio pranto:
Amor cá, é tudo em vão...
Não igual, qual dela eu vejo
Lá brilhar na imensidão...
Até as rosas de setembro
Já me perguntaram um dia:
Por que não vês a primavera,
Por que não te é idolatria?
Enquanto os mentirosos
Disfarçam-se em sorrir,
Eu adormeço em tua graça
Na espera de me vir...
Minhas flores são da noite
Onde pisa o meu sonho
Cheirando perfume de lírios
No luar que te componho...
Lindos são os teus olhos
D’estrelas que não mentem,
Enquanto astros choram
A mentir o amor que sentem!
(Poeta Dolandmay)
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